O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou na quarta-feira (24) que uma eventual vitória do ex-presidente Donald Trump na eleição dos Estados Unidos não colocaria em risco a relação de parceria do país com o Brasil.
O chefe da equipe econômica disse que os dois países vão fazer um anúncio nos próximos dias tratando da aproximação de Brasil e EUA na transformação ecológica e na transição energética.
Segundo Haddad, é difícil opinar sobre eleição em outro país. Mas ele disse desejar que a troca entre o Brasil e os EUA seja vista como um “intercâmbio entre Estados”.
“A gente deseja que esse intercâmbio não seja visto como um intercâmbio entre governos, mas entre Estados que têm uma relação muito antiga e que pode ser fortalecida com benefícios mútuos”, afirmou.
“Eu não vejo por que uma alternância possa colocar em risco esse tipo de parceria que está sendo tratada com a secretária [do Tesouro dos EUA, Janet] Yellen”, acrescentou.
O ministro conversou com jornalistas no Rio de Janeiro após evento paralelo ao encontro de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 –grupo que reúne as 19 principais economias do mundo, a União Europeia e a União Africana).
No último domingo (21), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que não será mais candidato à reeleição após intensa pressão interna do Partido Democrata pela sua saída. Ele endossou sua vice, Kamala Harris, para ser a candidata democrata na eleição de novembro.
Na primeira pesquisa feita após a desistência de Joe Biden da eleição à Presidência dos Estados Unidos, Kamala aparece numericamente à frente de Donald Trump e supera o republicano fora da margem de erro no cenário em que o candidato independente Robert F. Kennedy Jr. é incluído entre as opções.
No cenário no qual apenas Kamala e Trump são apontados como opções, a democrata alcança 44% das intenções de voto, contra 42% do republicano. A diferença entre os dois está dentro da margem de erro da pesquisa, de três pontos percentuais.
Um levantamento da CNN divulgado na quarta (24), no entanto, apontou na direção contrária e mostrou que Trump seria a escolha de 49% dos eleitores americanos, enquanto Kamala teria 46% das intenções de voto.
Haddad teve uma reunião bilateral com a secretária do Tesouro dos Estados Unidos na manhã da quarta (24). Os líderes discutiram, entre outros temas, a aproximação dos países em relação à transformação ecológica. Segundo o ministro, os dois países costuram uma aproximação nesse sentido.
“Nós temos insistido com os EUA que uma cooperação técnica entre os países que lideram a produção de energia limpa no mundo e podem fazer um intercâmbio tecnológico para acelerar a transição energética seria muito benéfico”, disse.
Além de medidas climáticas, Haddad defende novos instrumentos financeiros, como os títulos verdes, lançados pelo Brasil em 2023, e o mercado de títulos de carbono.
“Nós não estamos tratando só da questão financeira. Estamos também tratando da questão comercial, tecnológica e até geopolítica”, disse.
O ministro defendeu parcerias do Brasil com “os três grandes blocos”. “Da mesma maneira que o presidente Lula tem dito que a China é e continua sendo um grande parceiro comercial do Brasil, nós temos, sim, a intenção de nos aproximar da Europa, sobretudo em relação ao acordo entre União Europeia e Mercosul. E também estabelecemos uma relação mais estreita nesse momento com os Estados Unidos.”
“Nós não estamos jogando numa trilha só. Estamos procurando as parcerias que consolidem as vantagens competitivas que o Brasil tem na área”, acrescentou.
Com relação à apreensão americana com o chamado excesso de capacidade industrial da China, Haddad afirmou que o fechamento da economia global não é sustentável e defendeu regras que permitam repensar uma abertura econômica e uma distribuição de oportunidades mais equilibrada.
“Nós entendemos que esse processo de curto prazo de fechamento que as economias estão vivendo não é sustentável no médio e longo prazo. É uma reação compreensível à luz dessa questão da sobrecapacidade manufatureira chinesa, mas que não é sustentável no médio e longo prazo”, disse.
Segundo relato de uma pessoa a par da reunião bilateral, Haddad e Yellen também falaram sobre tributação progressiva durante o encontro e a secretária do Tesouro dos EUA se mostrou favorável a que os mais ricos arquem com uma parcela maior dos custos do Estado.
Nesse sentido, ela mencionou uma proposta do presidente Biden de elevar a tributação para bilionários nos EUA.
Haddad, contudo, afirmou aos jornalistas que a taxação de super-ricos não foi tema do compromisso com Yellen. “Isso está sendo tratado no âmbito das equipes técnicas [do G20]. Na minha opinião, está avançando bem. Eu tenho algum otimismo em relação a uma declaração conjunta dos 20 países”, disse.